Por Eduardo Tironi
Seria um dia normal nas férias de julho. Ir ao clube como todos os dias e esperar a turma chegar no campo de sempre. Quando um aparecia com a bola debaixo do braço, pronto: tarde jogando futebol até o apito final, determinado pelo fim da luz do sol. Seria um dia normal, mas não foi porque apareceu o Chileno. Nunca ninguém soube o nome daquele garoto magrinho. Só se sabia que o apelido era Chileno, talvez pela aparência andina, talvez porque fosse mesmo do Chile. O Chileno não era dos mais assíduos em nosso futebol. Às vezes aparecia, às vezes não. Naquele dia ele foi, acompanhado de um adulto. Um cabeludo bigodudo que decidiu jogar bola com a gente. No gol. Ninguém sabe dizer como a história surgiu. Mas em determinado momento todos dentro do campo estavam sussurrando o nome “Mario Osben”. Mario Osben foi um goleiro chileno que disputou a Copa de 82 pela sua Seleção. A única imagem que todos aqueles garotos tinham do jogador era a do álbum de figurinhas do chiclete Ping-Pong da Copa, uma febre que tomou conta do país como nenhum jogo de videogame atual é capaz de fazer. Simplesmente todos os meninos a partir de nove anos colecionaram aquele álbum. Mas esta é outra história. A figurinha era a de um cabeludo bigodudo. O adulto que jogava com a gente naquela tarde (no gol) era cabeludo e bigodudo e chegou com um menino chileno. Pronto, estava criada a lenda. “Mario Osben”, um adulto grande, passou a tarde defendendo um gol feito de bolinhos de camisetas num clube em Santo André, no ABC paulista. Gritou, orientou a defesa, deu pontes com alguma categoria. E também levou gols. Aquela tarde de futebol chegou ao fim quando a luz do sol acabou. Todos foram para suas casas pensando se o cabeludo bigodudo era mesmo o Mario Osben. - É parecido, mas não é ele. - O da figurinha é mais gordo. - O da figurinha é mais gordo. - Goleiro de seleção não toma aquele gol que ele tomou. Essa história aconteceu há pelo menos 25 anos. Até hoje eu me pergunto se era ou não Mario Osben o goleiro do nosso futebol no campo do Aramaçan. Um grande amigo meu às vezes lembra daquele dia. Olha para o alto buscando aquele momento na memória e solta. - Acho que pode ter sido ele mesmo. Assim como eu, ele prefere ficar com a verdade daquela tarde.